No dia 11.06.1965 , tomava posse
como funcionário do Banco do Brasil. Antes
de sentar à mesa a mim destinada, li algumas recomendações contidas num famoso
livro chamado CIC-FUNCI , que deveria,
além de ler, interpretar e aplicar durante a minha vida de bancário.
No decorrer do expediente travei
conhecimento com os primeiros papéis, muito diferentes dos documentos que lidava no
serviço público - Portaria, Leis,
Decretos, ofícios. Tudo era novidade. Já possuindo porém experiência em
serviços burocráticos e sendo exímio
datilógrafo não tive muitas dificuldades.
Lá por volta de 14:30, chegou a
minha mesa um senhor de aproximadamente 45 anos, porte alto, cabelos ensaiando
os primeiros fios grisalhos, tez clara e voz com impostação forte. Pediu-me licença para abrir a gaveta da mesa que eu
ocupava e indagou-me em seguida se por acaso teria visto uma lanterna. Como
nada achou, foi para a mesa ao lado e assim foi passando de uma a uma.
Por volta de 16:00 horas, já com as portas do Banco fechadas para
atendimento ao público, fiquei sabendo que o tal que fuçava gavetas a procura
de uma lanterna, era um inspetor de nome
Pantoja tido e havido como o terror dos gerentes e funcionários do Banco, visto
o rigor aplicado em suas rotineiras inspeções.
Mais ainda quando se tratava de inspeção especial (não era o caso
daquela).
Minha mesa estava situada logo à
esquerda da mesa do sub gerente da agência, responsável pela sua administração.
Assisti assim o fato que a memória me
faz trazer a público no momento em que o Supremo Tribunal Federal, na votação
em andamento já meteu seis bolas pretas condenando o ex-diretor do BB,
Pizzolato.
Bem, voltando ao assunto, o
senhor Pantoja queria que o sub gerente apresentasse a ele a lanterna. O sub
respondeu : que lanterna ? Aqui na
agência não tem lanterna, o que o senhor pretende iluminar? Podemos conseguir
um lampião. Não ! eu quero a lanterna, respondeu.O sub gerente de novo retrucou que
na agência não havia lanterna.
Então aquele senhor, com os papéis de caixa, já
blocados e numerados, não tenho lembrança do mês e dia a que se referiam, pois,
diariamente todos os documentos após coletados , eram somados, numerados, lançados no balancete e
guardados por vários anos (acho que 20 ), com ar de ironia, como se tivesse detectado um grande deslize, destacou um comprovante de
pagamento de despesas gerais relativo a compra de duas pilhas média (supunha
ele que se tratava de carga para a tal lanterna), e foi dizendo se não tinha
lanterna porque o banco estava comprando pilhas? Aquilo era uma grave
irregularidade passível de severa
punição por desvio de recursos e mal uso do dinheiro do Banco, tal
irregularidade poderia contribuir para o deperecimento
do Banco (os auditores da INGER e do BACEN
adoravam essa palavra deperecimento).
Nunca me esqueci da grotesca cena: o
sub chama o contínuo cuja rubrica constava do documento de caixa e o
indaga sobre a aquisição das pilhas. Ele mais que depressa respondeu: uai! As
pilhas foram compradas para colocar no novo relógio. E incontinenti de posse de
uma pequena escada retirou o relógio da parede, levou-o até a mesa, mostrando que atrás
do relógio havia um papel retangular (famoso oitavado) ali colado constando a data da
colocação das pilhas que coincidia com a do comprovante da aquisição.
Era assim o BANCO DO BRASIL S.A. que
eu conheci, vivi, amei e respeito até hoje. Por isso estou de alma lavada e
tenho certeza que também o estão milhares de colegas aposentados e ativos,
pois, enquanto nos idos de 1965 se prestava contas da aquisição de duas pilhas
de lanterna, em 2003, o corrupto diretor Henrique Pizzolato desviou mais de R$.
75.000.000,00 dos cofres do Banco para o bolso dos políticos envolvidos no
maior escândalo político do Brasil patrocinado pelo PT – O Mensalão.
Não
bastasse o desvio, ainda recebeu propina de R$ 326.000,00. Para nosso deleite,
em seu depoimento construiu uma história melhor que os textos do Zorra total,
pasmem os senhores, afirmou em juízo que entregou pessoalmente os pacotes
contendo a elevada soma a alguém do PT, cujo nome não perguntou. Só mesmo
rindo.
Estaremos atentos à dosimetria da
pena, que seja exemplar!
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